domingo, 27 de janeiro de 2008

Areal

O céu escurece,
O luar invade-nos o coração
E as trevas, a mente.
Ódio e amor,
Duas faces do mesmo elemento.
Serão as trevas intocáveis?
Poderá o luar sucumbir?
Nenhuma das faces cairá.
São, pois, as duas, apoio e complemento uma da outra.

E move-se assim o corpo ao ritmo do coração
E não da mente, ausente dos planos,
Da trajectória, de todo um plano universal.

O destino de todos, já traçado ou por nós definido?
Se calhar seja já destino que o Homem faça
Um longo e ridículo questionário.
Que sabe o Homem afinal?
Ele apenas avista a ponta de algo escondido na areia,
Algo demasiado escondido na imensidão do areal
Areia demasiado movediça,
Que engole as esperanças e sonhos de quem insiste em escavá-la.
É, afinal, a escuridão dos nossos corações
Que se esconde no areal.

O Retrato da Paz

A luz que vês
A passar
Por aquela janela,
Não passa da
Ausência de escuridão.
Uma força invisível...
Que provêm do mais fundo
Espaço
Do teu coração.
A Paz é isso.
É a ausência
De um instinto primário
Que se esconde em cada um de nós:
A Guerra.

A Guerra é uma arte,
Figuração definida
Por traços definidos.
A Definição de muitas e muitas
Vidas
Passaram e passarão por ela.
Assim,
A Paz é
Uma tela vazia,
Onde todos nós podemos
Projectar,
Imaginar,
Reflectir,
Sonhar,
O que seria cada
Um de nós.
Um futuro que podemos
Mudar.
Uma vida que podemos
Salvar.

E quando,
Mergulhados no
Sangue e lágrimas
De todos os que
Por nós
Lutaram,
Sofreram,
Morreram,
Estendermos
As mãos
Tingidas
Do Ser dos Outros
Para a tela branca,
Nascerá
Um esboço
De uma felicidade
Inalcançável.